terça-feira, 17 de março de 2015

«- Eu tenho pensamentos maus...» - Jornal Daqui, 18 de Março de 2015




« Há acontecimentos na nossa vida tão “especiais” que, ainda que fiquem registados na nossa memória, não podemos guardá-los só para nós. Permitam-me, pois, partilhar convosco, caros leitores, esta pequena história de vida:

Editorial da Edição n.º 68, de 18 de Março de 2015 do JORNAL DAQUI (Mafra)


Um destes dias, após o jantar, recebi um telefonema de um pequeno e muito querido amigo, de 7 anos de idade, que com uma voz algo débil e insegura, me disse que se sentia muito triste e preocupado.

Perguntei-lhe, então, o que o preocupava.

E, como resposta, obtive um profundo, mas revelador, silêncio…

Compreendi, depois, que a profundidade do seu pensamento justificava uma viagem ao interior de si mesmo, não só para coligir as palavras que melhor lhe permitissem expressar a sua preocupação, mas também, e talvez, para pedir licença à sua própria alma, para exteriorizar o seu sentir:

«- Maria João… eu tenho pensamentos maus… penso na morte (…)e se as pessoas que eu gosto morrerem não vou poder, nunca mais, vê-las… nem abraçá-las. E, isso faz-me ficar triste e até chorar.»

Sentada nas escadas do meu jardim, elevei o meu olhar para o céu, procurando encontrar no manto cúmplice e sombrio da noite, a resposta mais adequada à profundidade desta enorme e inegável evidência, expressa, afinal, através da voz, alma e inocência de uma criança.

Respondi-lhe, então: «- É tão verdade que tudo o que vive, morre…e os teus pensamentos, meu querido, demonstram bem o quanto cresceste.

É verdade, que umas pessoas partem mais cedo e irão ocupar as primeiras carruagens do comboio que nos conduzirá para além desta vida humana, outras, por sua vez, seguirão mais tarde.

Mas, não penses que pensar na morte é “mau”...porque pensar na morte é, também, pensar na vida.

A morte e a vida são uma coisa só, não são separadas.

Não há vida, sem morte, nem morte, sem vida.

E pensa nisto: se descobriste que a morte efetivamente existe e pode chegar, a qualquer momento, com os seus pezinhos de lã, descobriste, também, o maior segredo da Vida: que é importante vivê-la, sem a desperdiçar!

E, descobriste, também, que o AMOR e só o AMOR, dá sentido à própria Vida.

Os teus próprios pensamentos revelaram-te o quão importante é que, a cada dia, a cada hora, a cada instante, digas e demonstres (com beijos e abraços e por todas as formas) àqueles que amas: à Mãe, ao Pai, à mana, aos avós, restante família e amigos, o quanto gostas deles.

Porque, um dia, também eles terão de seguir viagem e de ocupar o seu lugar naquela carruagem. E eu e tu, também, um dia, partiremos…

Se compreenderes que a vida acontece, verdadeiramente, no presente, no “agora”, perceberás que, a final, a vida não tem princípio, nem fim, e que não há nenhuma razão, para ter medo da morte.

Nesta vida, já nada poderemos fazer por aqueles que partiram, senão continuar a amá-los, pela eternidade, guardando-lhes um lugar no nosso coração e evocando a sua lembrança, com amor e sorrisos, porque o nosso sofrimento é inútil e as lágrimas que derramarmos, apenas farão extinguir a chama e a luz daqueles que já partiram…».

Abramos, pois, os braços ao AMOR e à VIDA que habita em nós!»


Maria João Vitorino








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