«A papoila»
A nossa vida diária é feita de hábitos e rituais que, a maior
parte das vezes, cumprimos, quase mecanicamente.
Ontem, durante a manhã, como faço quase todos os fins de semana,
desloquei-me, em família, a uma das pastelarias da Malveira com o intuito de,
ali, tomar um café.
Ontem, por um qualquer motivo, resolvi que iria aceder ao
referido estabelecimento por uma porta lateral, que não aquela que, usualmente,
transponho.
Volvidos alguns metros, desde a saída do automóvel em que nos
fizemos transportar até à porta, ouvi a minha filha, jovem adolescente,
chamar-me.
- Mãe! Olha, ali! –
Disse, sorrindo, com os seus olhos brilhando, apontando com o dedo indicador,
uma determinada zona da calçada.
Eis, pois, o que os meus olhos viram:
Uma singela e bela papoila!
Uma papoila desabrochara e crescera, à revelia de todas as
barreiras materiais erigidas pelas mãos humanas, numa fresta da calçada …
E era vê-la…
Com o seu pé esguio e direito,
A sua coroa vermelha,
Erguia-se, altiva, majestosa e orgulhosamente para o céu…
Ostentando uma pose firme e determinada,
Assumindo-se, decerto, na glória de ser quem “É”.
Detive-me, ou melhor, detivemo-nos ambas, ali, por uns
instantes, em plena comunhão…
Observei-a,
Contemplei-a,
Admirei-a na sua altivez,
Ali estava ela, sozinha,
Aparentemente frágil,
Sem nenhuma outra irmã, da sua espécie, ao seu redor,
Ostentando o porte de uma rainha,
Admirando, mirando do alto da sua torre, o reino
e a vida…
Indiferente ao seu eventual destino,
Vestia a energia, a cor e a luz da VIDA,
E mostrava-se, assim, ao mundo inteiro… plena, segura, enorme!
E como eu própria me senti, perante ela, tão pequenina…
Porque…não era, apenas, uma frágil papoila…
Era, a energia da vida, em flor, manifestando-se em toda a sua
harmonia e vigor…
Não era, apenas, uma frágil papoila…
Era uma bênção, um sorriso da Mãe Natureza, despontando numa “nesga” da calçada portuguesa…
No seu corpo, nas suas pétalas de cor,
Continha a força e o vigor,
da energia da terra,
da chuva,
da luz do Sol da manhã
e do entardecer,
do vento,
da escuridão da noite
e do seu manto crepuscular…
Todos estes elementos, vivos, se associaram para participar na
sua sublime criação…
Não era, apenas, uma singela papoila…
Era a manifestação…
da própria VIDA,
…
Quem dera que nós seres humanos,
Soubéssemos VIVER com a energia daquela papoila…
Quem dera que soubéssemos e sentíssemos todos
A energia da VIDA de que somos feitos…
E que se manifesta em cada batida do nosso coração…
Quem dera que despertássemos todos!
Porque não existe uma base de lucidez para os nossos pensamentos
erráticos, enquanto não nos conhecermos a nós mesmos…
Enquanto cada um de nós não se conhecer a si próprio, não pode
ter alicerces para “construir” uma
vida “melhor”…
Tocamos vários “instrumentos”
durante a nossa vida humana, mas não há
música no nosso coração.
O nosso intelecto acumula milhares de “bits” de informação, mas não sabemos nada de nós próprios.
São volvidos muitos séculos da existência humana…e…
Não sabemos o que significa amar…
Evidenciamos problemas de relacionamento humano…
Não sabemos viver em paz, uns com os outros…
Usamos a natureza, mas não aprendemos a amá-la…
Enquanto, cada um de nós, não se conhecer a si próprio, viverá
nesse estado de conflito e contradição, consigo mesmo e com a maioria das
pessoas com quem se relaciona.
De que adianta ler mil livros ou ter formação em centenas de
cursos, de Reiki, ou de auto ajuda, entre outros, se não nos conhecemos a nós
próprios?
No Reiki em particular, de nada adianta ser “Mestre” e conhecer
todas as técnicas…quando, no trato humano e com o mundo em geral, somos
insensíveis e pouco amáveis para com os outros…
Pessoalmente,
entendo que mais importante do que conhecer as técnicas do Reiki e aplica-las
exemplarmente, é transpor a porta do autoconhecimento…
Sem o qual, entendo, nada entenderemos…
Mais: não há limite para o conhecimento de nós mesmos…
O que parece ter acontecido é que…perdemos o sentido de ternura
e de sensibilidade, como reação à beleza da Vida em todas as suas
manifestações.
Se não tivermos a
sensibilidade para apreciar e sentir o mundo, com todos os sentidos - como as
crianças - não sabemos, nem nunca saberemos, verdadeiramente, o que é amar…
O amor e o afeto manifestam-se, primordialmente, na
sensibilidade do coração…
Sem sensibilidade, sem afeto ou ternura para com o mundo
inteiro, toda a nossa vida, atitudes e ação é “mecanizada”, “robotizada”…
Um ser humano insensível à própria vida, não vive.
Já está morto…
E apenas, deixará cinzas no seu caminho…
Mas, a VIDA… é a “coisa” mais sagrada da nossa existência!
Por isso, vale a pena resgatar, avivar a sensibilidade!
Por isso, vale a pena resgatar, avivar a sensibilidade!
Aqui e agora, convosco, brindo à VIDA!!
Um abraço!
Venda do Pinheiro, 8 de Março de 2015
Maria João Vitorino
Texto escrito conforme
o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.