"Reflexão" e
"autoconhecimento", não constituem - ao que parece - expressões
verbais muito apelativas na nossa sociedade ...
Não chamam a atenção de
todos.
Chamam, apenas, a atenção
de alguns, poucos, até, dir-se-ia.
"O tempo" (que já, por si, é curto) escasseia, para "essas coisas"!
- Pois, não há tempo, não
é?
Concordo.
A vida de cada um está sempre cheia de
"coisas para fazer".
Umas mais importantes,
outras menos.
Não há tempo para pausas,
para intervalos, para pensarmos por nós mesmos, sozinhos, connosco, mesmos.
E "essas coisas para
fazer", hão de durar uma vida inteira...
Uma vida inteira, sem
tempo, para si mesmo...
Uma vida inteira sem
refletir para além do superficial.
Uma vida inteira, dia após
dia, a cumprir os velhos rituais:
levantar, comer, trabalhar, comer, filhos, pais, família, comer, dormir...
Uma vida inteira, sem
tempo, para contemplar, para além do superficial, a nossa própria existência...
É curioso…
É curioso, como tantas
vezes, nos refugiamos nas "coisas para fazer", para evitar enfrentar
a vida, tal como ela "é".
Consciente ou inconscientemente, evitamos enfrentar a "realidade" tal como ela se nos apresenta...
Mas, ao mesmo tempo, a cada dia: tecemos
mil sonhos e desejos, estabelecemos metas, anseios e expectativas...
E, em cada sonho, em cada
desejo, ou anseio: há uma viagem para o “além”, uma viagem para o futuro...em
boa verdade, para o "nada", porque o futuro, ainda não é real e, apenas - diz o povo - a Deus pertence…
E, veja bem: em cada sonho, em cada
desejo, ideal ou anseio: uma fuga.
A fuga do hoje, do aqui e agora: do presente...
A fuga do hoje, do aqui e agora: do presente...
E a história repete-se a cada novo dia, todos os dias...
Uma vida "preenchida", porque cheia de "ocupações", mas vazia...
Porque, só é possível viver "no presente", onde existe, verdadeiramente, aquilo que "é".
- Quem, de entre nós, poderá, honestamente, afirmar, ser capaz de viver lúcida e conscientemente, no presente?
Ainda que, conheçamos todas as teorias, tenhamos lido todos os livros e até consultado todos os "Mestres", Santos e/ou gurus, continuamos a ser, cada um de nós, no "hoje", no "aqui" e "agora", o "resultado do passado", moldados, condicionados, pelas nossas próprias vivências, experiências, mágoas, alegrias, tradições e padrões sociais, religiosos e culturais.
É o passado que se manifesta a cada dia, em cada uma das nossas atitudes, gestos e reações.
E, perante cada novo
facto da vida: a automática reação da memória. A reação do nosso velho
pensamento, moldado, condicionado, por sucessivas gerações...
O mesmo velho pensamento,
cujo dono, nunca teve tempo para refletir...
Cujo dono, nunca teve
"tempo" para se conhecer a si mesmo...
E que, volvidos 30, 40, 50, 60, 70 anos, continua à procura da paz e da
felicidade...
Que não conseguiu ter, como pretenderia...
Que não conseguiu ter, como pretenderia...
Como poderemos continuar a viver assim?
Como poderemos continuar a seguir esse velho pensamento,"vivendo", a cada novo dia, no exterior de nós mesmos, em teorias e palavras ocas e vazias?
Como poderemos continuar a seguir esse velho pensamento,"vivendo", a cada novo dia, no exterior de nós mesmos, em teorias e palavras ocas e vazias?
Reflexão e
autoconhecimento, são necessários para compreender a sua própria existência...
Quem procura a
"Luz", a "iluminação" fora de si mesmo, nos livros, nas
teorias, nos intérpretes, ou intermediários da vida, é quase certo que, jamais a
encontrará...
Apenas, hoje, honestamente, reflito...
Malveira, 27.08.2016
Maria João Vitorino