O último mês do ano, traz-me a nostalgia do tempo que vivi, das
memórias dos que partiram, de tudo quanto ficou por dizer, de tudo quanto ficou
por viver.
Em boa verdade, vivemos pouco e de forma acelerada.
O homem moderno vive o seu dia a dia, reproduzindo o que fez no
dia anterior, sem entusiasmo, nem paixão, cumprindo rotinas que sabe de cor:
levanta-se, trabalha, ocupando, tantas vezes, o seu tempo, fazendo o que não
gosta, com gestos automáticos, conversas de circunstância, reproduzindo
palavras que são dos outros e que, por serem tão usadas, se tornaram ocas,
vazias, estéreis.
Somos uma sociedade permissiva, que aceita tudo, a maior parte
das vezes, sem questionar, sem sequer pensar.
Poucas são as pessoas que expressam um verdadeiro pensamento
pessoal ou que se permitem expressar os seus sentimentos, genuína e
humanamente.
Vivemos uma vida de ruídos, luzes, vozes altas e gritos,
esvaziando-nos e atordoando-nos, automatizados, num processo evidente e gradual
de perda de energia física e anímica.
E pior que tudo isso, sem termos consciência dessa grave
enfermidade…
Acostumados, como estamos a ver montras, televisão, internet, e
outras mil distrações, esquecemo-nos de nós próprios, e aqui estamos, agora,
observando o mundo que criámos…
Somos chegados ao mês de dezembro é, pois, tempo de comemorar o
Natal, com verdadeiro espírito natalício. É chegado o tempo de partilha, de
doação e de AMOR.
A redenção, a mudança, a salvação do mundo começa no próprio
coração.
Não é preciso que vistamos as vestes do asceta, mas é preciso
que paremos e nos ofereçamos o silêncio, para que possamos ouvir o bater do
nosso próprio coração, e nele, o pulsar da vida.
É preciso que estejamos conscientes de que temos alma e que esta
é mais importante do que o dinheiro, bens, ou automóveis que possuímos ou que
almejamos vir a possuir.
É preciso que busquemos o silêncio, para além das luzes das
montras e do rufar dos tambores, para que, finalmente, nos reencontremos a nós
próprios.
As coisas mais importantes da vida acontecem no silêncio: o
nascimento, o sono, o sonho, até a morte, que um dia há de, inevitavelmente,
chegar com pezinhos de lã.
Diz um adágio árabe que: “A árvore do silêncio, dá o fruto da
paz.”
Foi no silêncio, há muitos séculos atrás que, um dia, Jesus
Cristo, filho de Deus, veio ao mundo, sem ruídos, nem arautos, nem tambores.
E, convictamente, creio, que naquele momento, imperou na Terra,
e nos Céus, o maior de todos os silêncios…
O momento em que Deus, feito homem, através do seu filho,
pronunciou a maior sentença do mundo: o Amor e o Perdão.
Se pudéssemos, um dia, assistir àquele sublime momento, decerto
compreenderíamos, com a alma, o significado e o valor da vida, do Amor, da
humildade e do silêncio…
Por tudo isto e porque está vivo, não se esqueça, nesta quadra
natalícia, de que basta erguer a cabeça para descobrir a luz do Sol, o céu azul
e as estrelas.
Ame-se, sorria e derrame afeto, compreensão e amor ao seu redor.
Porque é, agora, chegada a hora de alguém falar de amor, como
uma coisa possível e realizável.
Desejo-lhe, um excelente Natal, repleto de bênçãos.
Um abraço.
Maria João Vitorino
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Nota: Este artigo foi publicado no Jornal Daqui (Mafra), edição
nº 63 de 10 de Dezembro 2014 disponível em http://www.jornaldaqui.com.pt/